quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Em par!

De calça jeans e pernas cruzadas ela começa. Após abrir a porta de seu quarto que dava acesso ao isolado, tentou imaginar como seguia se estivesse escrevendo as 12h da noite embaixo da última e única árvore da sua casa. Sentiria medo, provavelmente.
Já eu, ousaria. Interromperia esse momento de pobreza literária, disfarçada de romantismo Alencarino e deixaria as mais tristes dúvidas falarem. A realidade é que ela não está
se encontrando.

Eu experimento novas conversas, novos livros, milhões de músicas. Enquanto ela tenta ocultar sua personalidade simples e cheia de fragilidades. Deixa-se envolver pelo novo. Tenta fazer uma nova avaliação do que é o certo. Não quer que seus gestos transpareçam. Afinal, tudo agora é novo. Já eu, não quero estar aqui, e acolher a opinião dos outros. Não permito que me chamem de frágil, preconceituosa. Sou muito mais que isso. Esses cabelos dela não me enganam. Sei que deseja crescer. Se sentir maior, assim como Kant diria.
O mais conflitante entre nós duas é o desejo. É tão forte que tornasse algo difícil de separar. Mas somos muito diferentes. Temos que lutar por sobrevivência. Ou melhor, vou lutar pela minha - ainda que sozinha. Só uma de nós poderá sobreviver.
Muitos querem destruí-la. Desejam que sua inocência e a submissão aos outros partam sem deixar marcas. Sendo que com isso também morrerão o sorriso sincero e a sensibilidade para enxergar profundamente o mais bonito das pessoas. Eu não me iludo facilmente. Jogo como quero e depois caio fora. Continuo aqui, revigorada e tirando proveito das situações que me favorecem. Por mim, esse negócio de seriedade já era. Queria era curtir mesmo. Viver coisas novas, bem diferente do padrão da vidinha dela. Não sou tão sensível assim. Quando você estiver incomodado o máximo que vou poder fazer é lhe escutar. E pronto! Ponto final! Essa menina boba não faz isso. Quer tagarelar até encontrar um modo que possa ajudar alguém. Fazer com que as pessoas não saiam do mesmo jeito que chegaram. Se quer saber, acho que isso é pureza demais. Todo mundo tem problemas e não é ela com esse jeitinho pequeno que vai mudar ninguém. Cresça garota! O mundo lhe exige isso.
Entretanto, sei que ela não ver motivos fortes pra abandonar o que tirou de melhor
da vida. Atitudes novas não vão me agradar. Talvez, o máximo que aconteça é eu te satisfazer. Mas e daí? Quando você gostar de tudo em mim não vai mais me querer. Pensava ela.
Essa besteira toda me incomoda. Ela tem é que vivenciar o novo, e não acomodar-se com pequenas coisas que julga preencher-la. Quanta vida espera por ela. Essa cidade grande, cheia de praias lindas, shows, diversão. Mundo que, provavelmente, ela jamais conheceu. Vai ficar aí, nesse mundinho pequeno, desejando carinho toda vez que se sentir rejeitada? Esqueça! A solidão acontece, mas o importante é que existem amigos, leituras, conversas que podem supri esse sentimento. Pra que dar tanta importância a essa mediocridade.
Chega o momento em que eu nem sei mais quem eu quero que vença. Basta que separemo-nos. Não dá pra eu viver junta com essa garota. Alguém pode nos desgrudar? Faça assim: leve-a pra Arábia Saudita. E você fique comigo aqui, me mostrando esse mundinho que ela nunca teve coragem de descobrir.

Luiza Machado Vasconcelos Matos Cavalcante

Um comentário:

Carlos Eduardo Sampaio disse...

A fase que mais nos conhecemos é aquela em que sentimos que estamos ali, sozinhos, com um mundo de perguntas, dúvidas, angústias...Lembra do texto SOU EU? Nada mais que fiz, foi dar voz ao que realmente sou, coisa que só nos lembramos quando cai a ficha e a terrível realidade da solidão nos assola. Mas de tudo isso fica a certeza: sair mais forte é conseqüência natural.