quarta-feira, 30 de abril de 2008

Casualmente


Certo dia, ia passando pela rua e vi um papel bem amassadinho na ponta da calçada. Ele me atraiu por ter uma cor forte. Nunca havia parado antes por causa de um papel na rua. Não sou daquelas pessoas que encontram dinheiro perdido no chão. Geralmente olho para frente. Mas neste dia eu estava cabisbaixa.Quando pequei o papel, pouco conservado, fiquei paralisada. Era algo que jamais havia prestado atenção. Deu uma dor no coração e ao mesmo tempo uma vontade de descobrir as coisas do mundo. As cidades. Os lagos. Andar a cavalo. Correr até a maré mais próxima. Não importava se eu ia fazer algo que já tinha vontade de repetir ou que sempre sonhei. O principal era viver!O papel tratava-se de uma foto, do estilo comparativo, feito antes e depois de uma pessoa. Era uma menina muito jovem, aparentemente sozinha. Mas que tinha seu encanto. Parece que existia o desejo de buscar a felicidade total do mundo. Mas do lado dessa foto havia outra dela numa cama de hospital. Quase morta. Embaixo a legenda: Sem coração não há vida. Doe órgãos!Pensei quanta gente jazida carregava consigo córneas, rins, medulas que poderiam salvar pessoas.Tantos poderiam dar continuidade à vida, mas não fazem isso. Será egoísmo ou pensamento conservador inútil? Depois que morremos ou a terra cobre nossa beleza, que tanto tentamos valorizar enquanto vivos, ou viramos cinza. Nada mais que isso. Aí termina nosso valor físico, concreto. Deixamos de trazer a alegria, reavivar pessoas. Será que conhecemos o verdadeiro sentido do amor?

Luiza Machado Vasconcelos Matos Cavalcante

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